Lesões e Fraturas

Lesão de Lisfranc: causas, sintomas e tratamento

A lesão de Lisfranc é uma causa frequente de dor intensa no médiopé, com risco de instabilidade articular e artrose precoce.

Sempre reforço com meus pacientes que, quando reconhecida cedo, o tratamento certo evita sequelas e acelera a volta às atividades.

Entenda a lesão de Lisfranc

Acontece no meio do pé, nas articulações que conectam o tarso aos metatarsos.

O ligamento de Lisfranc — da base do 2º metatarso ao cuneiforme medial — é o principal responsável pela estabilidade dessa área.

A lesão pode atingir só o ligamento, com ruptura e instabilidade, mas também pode vir acompanhada de fraturas e, nos quadros graves, de luxações.

Como essa área sustenta a transferência de carga do retropé para o antepé, qualquer falha estrutural costuma gerar dor ao apoiar, dificuldade para caminhar e perda de força no impulso.

Causas e mecanismos mais comuns

Dois mecanismos explicam a maioria dos casos de lesão de Lisfranc: trauma indireto com o pé em flexão plantar sob carga axial e trauma direto com impacto no dorso do pé.

  • Esportes com mudança rápida de direção, como futebol e vôlei, com torção do pé apoiado.
  • Queda ao descer degraus ou de bicicleta, com o pé travado e o corpo avançando.
  • Acidentes de trânsito, com compressão do pé contra pedais ou painel.
  • Objetos pesados caindo sobre o dorso do pé, gerando contundimento e fratura.

Sinais e sintomas que pedem atenção

O quadro típico começa com dor no médiopé que piora ao apoiar, edema no dorso do pé e, muitas vezes, hematoma na sola na região medial.

A presença desse hematoma plantar é um sinal de alerta para lesão de Lisfranc.

  • Dor localizada entre o primeiro e o segundo metatarsos, ou no dorso do médiopé.
  • Edema importante nas primeiras horas, com dificuldade para calçar e apoiar.
  • Equimose plantar medial, achado sugestivo de instabilidade.
  • Sensação de “ceder” ao tentar caminhar, com marcha antálgica.
  • Em casos graves, encurtamento aparente do pé ou deformidade visível.

Diagnóstico: do exame físico aos exames de imagem

O exame físico avalia dor à palpação no espaço entre o primeiro e o segundo raios, dor ao estresse de abdução do antepé e incapacidade de ficar na ponta dos dedos.

Na suspeita clínica, os exames de imagem confirmam a lesão de Lisfranc.

  • Radiografias com carga nos planos anteroposterior, lateral e oblíquo, preferindo comparação com o lado sem lesão. Desalinhamento entre a face medial do 2º metatarso e a face medial do cuneiforme intermediário sugere instabilidade.
  • Tomografia computadorizada identifica fraturas finas e avalia o posicionamento articular, útil no planejamento cirúrgico.
  • Ressonância magnética mostra ruptura ligamentar e edema ósseo, valiosa quando a radiografia não explica a dor.

Se a dor é intensa e as imagens iniciais são inconclusivas, radiografias com carga após o edema ceder podem ser repetidas ou solicitar uma tomografia, pois isso evita subdiagnóstico da lesão de Lisfranc.

Tratamento: conservador ou cirúrgico

A escolha depende do alinhamento e da estabilidade.

  • Conservador para lesão de Lisfranc estável: imobilização com bota ou gesso, sem apoio, por 6 a 8 semanas, seguida de apoio progressivo e fisioterapia focada em mobilidade, força intrínseca do pé e propriocepção.
  • Cirúrgico para instabilidade ou desalinhamento: redução e fixação interna com parafusos e placas, ou artrodese seletiva em padrões de fratura ligamentar extensa. Remoção de material pode ser considerada conforme dor e atividade.

Após a cirurgia para lesão de Lisfranc, o protocolo típico inclui imobilização e ausência de apoio por 6 a 8 semanas, depois carga parcial guiada por imagem e dor, com retorno pleno às atividades apenas quando a marcha estiver estável.

Prognóstico e possíveis complicações

O prognóstico melhora quando o diagnóstico é precoce e o alinhamento é restaurado.

As complicações mais comuns são artrose tarsometatarsal, dor crônica ao apoiar, rigidez, perda de impulso na marcha e necessidade de procedimentos adicionais.

Prevenção e cuidados práticos

  • Em esportes com chute e giro, treinar técnica de apoio e reforçar estabilidade do tornozelo e do arco plantar.
  • Usar calçados com bom suporte do mediopé e palmilhas quando indicado.
  • Evitar retorno precoce após torção dolorosa do pé, procure avaliação se a dor persiste.
  • Gelo e elevação nas primeiras 48 horas ajudam no controle do edema.

FAQs

O que é a lesão de Lisfranc?

É uma instabilidade das articulações tarsometatarsais, causada por ruptura ligamentar, fratura ou ambos. Sem tratamento adequado, a cartilagem sofre e a marcha fica dolorosa.

Como diferenciar de uma entorse simples do pé?

Dor focal no médiopé, hematoma plantar medial e piora ao apoiar levantam suspeita. Radiografia com carga, tomografia e ressonância ajudam a confirmar o diagnóstico.

Toda lesão de Lisfranc precisa de cirurgia?

Não. Lesões estáveis e sem desvio podem ser tratadas com imobilização e reabilitação. Instabilidade ou desalinhamento costumam exigir fixação interna ou artrodese seletiva.

Quanto tempo demora para voltar a caminhar sem dor?

Em casos estáveis, o apoio retorna em 6 a 8 semanas de forma progressiva. Após cirurgia, a ausência de apoio geralmente dura período semelhante, seguido de reabilitação por alguns meses.

Posso voltar ao esporte depois da lesão?

Sim, com critérios claros de retorno: sem dor, força e equilíbrio restabelecidos, imagem estável e testes funcionais adequados. O tempo varia conforme o padrão da lesão e a modalidade.

Quais são as sequelas mais comuns?

Artrose tarsometatarsal, dor crônica ao impacto, rigidez e necessidade futura de artrodese em casos avançados. Um diagnóstico precoce reduz esse risco.

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Dr. Bruno Air

Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).

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